NA LUZ DA VERDADE (Edição de 1931)


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80. Era uma vez...!

São apenas três palavras, todavia, são como uma fórmula mágica; pois trazem em si a propriedade de despertar em cada ser humano imediatamente alguma intuição fora do comum. Raramente essa intuição é sempre igual. É semelhante ao efeito da música. Tal como a música, estas três palavras também encontram seu caminho directamente até o espírito do ser humano, seu verdadeiro “eu”. Naturalmente, apenas naqueles, que não mantêm o espírito inteiramente enclausurado e, com isso, já perderam a verdadeira natureza humana aqui na Terra.

Cada pessoa, porém, diante estas palavras, involuntariamente recordar-se-á logo de alguma vivência do passado. Esta se levanta viva diante dela e, com a imagem, também uma intuição correspondente.

Ternura saudosa para uns, felicidade melancólica, também desejos silenciosos irrealizáveis. Para outros, no entanto, orgulho, cólera, horror ou ódio. O ser humano sempre pensa em algo que outrora vivenciou, que lhe produziu uma impressão fora do comum, mas que ele presumia desde muito já extinta dentro de si.

Entretanto, nele nada se apagou, nada ficou perdido daquilo que ele realmente vivenciou outrora. Tudo isso pode chamar ainda de coisa sua, como realmente adquirida e, por conseguinte, imperecível. Mas também somente aquilo que foi vivenciado! Outra coisa não poderá surgir com tais palavras.

O ser humano deve prestar muita atenção nisso, com cuidado e com o sentido alerta, então logo reconhecerá o que está realmente vivo dentro dele e o que pode ser denominado morto, como invólucro sem alma de recordações inúteis.

Finalidade e proveito para o ser humano, onde não devemos considerar o corpo, só tem aquilo que durante sua existência terrena actuou de modo suficientemente profundo, para imprimir na alma uma marca, que não desvanece, que não se deixa apagar novamente. Somente tais marcas têm influência sobre a formação da alma humana e, assim, prosseguindo, também sobre a evolução do espírito em seu constante desenvolvimento.

Na realidade, portanto, só é vivenciado e com isso tornado propriedade, aquilo que deixa uma impressão de tal maneira profunda. Tudo o mais passa sem efeito ou, no máximo, contribui como meio auxiliar para preparar acontecimentos, que são aptos a causar impressões tão grandes.

Feliz daquele que pode denominar tantas e tão fortes vivências como sendo suas, quer tenham sido provocadas por alegria ou dor; pois essas impressões serão um dia o que de mais valioso uma alma humana levará consigo em seu caminho para o Além. —

A actuação puramente terrena do intelecto, conforme é usual hoje, serve, quando bem aplicada, só para facilitar a existência corporal terrena. Este é, raciocinando com nitidez, o verdadeiro alvo de cada actuação do intelecto! Em última análise, não há nunca outro resultado. Em toda a sabedoria teórica, não importando qual seja o campo, assim como em toda a actuação, tanto na esfera do Estado ou na família, em cada pessoa individual ou nas nações, bem como, finalmente, na humanidade inteira. Infelizmente, tudo acabou se submetendo incondicionalmente apenas ao intelecto e, por conseguinte, encontra-se com isso preso a pesadas correntes da restrição terrena da capacidade de compreensão, o que logicamente teve de ocasionar e ocasionará ainda consequências funestas em todo o actuar e em todos os acontecimentos.

Quanto a isso, existe apenas uma excepção na Terra inteira. Contudo, a excepção não nos é oferecida por acaso pela Igreja, como tantos hão de pensar e como também devia ser, e sim pela arte! Nesta o intelecto exerce função estritamente secundária. Porém, onde quer que o intelecto alcance supremacia, a arte logo é degradada a ofício; ela desce directamente e também de modo totalmente incontestável bem para baixo. Trata-se de uma consequência, que, em sua simples naturalidade, nem pode ser diferente. Nem uma excepção pode ser aí comprovada.

A mesma conclusão também deve ser tirada de tudo o mais! E isso, então, não dá o que pensar aos seres humanos? Tem de ser como se lhes caísse uma venda dos olhos. Para aquele que pensa e compara, fica bem claro que, em tudo o mais que é dominado pelo intelecto, ele só pode receber um sucedâneo, coisa de pouco valor! Diante essa constatação, o ser humano devia reconhecer a que lugar, por natureza, pertence o intelecto, se deva surgir algo certo e valioso!

Somente a arte nasceu, até agora, ainda da actuação do espírito vivo, da intuição. Somente ela teve uma origem e um desenvolvimento natural, isto é, normal e saudável. O espírito, porém, não se manifesta no intelecto, e sim nas intuições, e mostra-se somente naquilo que de um modo geral se denomina “alma”. Exactamente aquilo, do que o actual ser humano de intelecto, desmedidamente orgulhoso de si mesmo, gosta de escarnecer e ridicularizar. Zomba assim do que há de mais valioso no ser humano, sim, exactamente daquilo que faz do ser humano realmente um ser humano!

O espírito nada tem a ver com o intelecto. Se o ser humano finalmente quiser melhorar em tudo, tem de observar as palavras de Cristo: Por suas obras os reconhecereis! É chegado o tempo em que isso acontecerá.

Somente obras do espírito trazem em si, por sua origem, a vida e, com isso, duração e constância. Tudo o mais, uma vez passado seu tempo de florescência, terá de ruir por si mesmo. Assim que os frutos devam chegar para isso, ficará patente o vazio!

Olhai, pois, a história! Somente a obra do espírito, isto é, a arte, sobreviveu aos povos, que já desmoronaram pela actuação de seu intelecto frio e sem vida. Seu alto e tão apregoado saber não pôde oferecer-lhes salvação disso. Egípcios, judeus, gregos, romanos seguiram este caminho, mais tarde também os espanhóis, franceses e agora os alemães, – contudo, as obras da verdadeira arte sobreviveram a todos eles! Também nunca poderão vir a perecer. Todavia, ninguém notou a regularidade severa na ocorrência dessas repetições. Criatura humana alguma pensou em investigar a verdadeira raiz desse grave mal.

Em vez de procurá-las e dar fim de uma vez a essa decadência, que se vem repetindo sempre de novo, o ser humano rendeu-se cegamente, submetendo-se com lamentações e rancor a essa grande “fatalidade”.

Agora, porém, atinge por fim a humanidade toda! Muita miséria já ficou atrás de nós, miséria maior ainda está por vir. E um profundo sofrimento perpassa as densas fileiras dos que em parte já estão sendo atingidos por isso.

Pensai nos povos todos, que já tiveram de cair, assim que atingiram a sua florescência, o ponto mais alto de seu intelecto. Os frutos decorrentes dessa florescência foram por toda parte os mesmos! Imoralidade, indecência e gula em múltiplos aspectos, ao que se seguiu inevitavelmente a decadência e a ruína.

A absoluta igual espécie é de chamar a atenção de qualquer pessoa! E também cada um que pensa tem de encontrar em tais fenómenos uma bem determinada espécie e lógica de leis as mais severas.

Esses povos, um atrás do outro, tiveram de reconhecer por fim que sua grandeza, seu poder e magnificência foram apenas aparentes, mantidos só pela violência e pela pressão, não fortalecidos em si mesmos por saúde.

Abri, pois, vossos olhos em vez de desanimar! Olhai ao redor de vós, aprendei com o que passou, comparai isso com as mensagens que já há milénios vos têm chegado da esfera divina, e tereis de descobrir a raiz do mal que corrói, que constitui exclusivamente o estorvo para a ascensão da humanidade inteira.

Somente depois que o mal tiver sido completamente erradicado, é que estará aberto o caminho para ascensão geral, não antes. E esse caminho então será estável, porque pode trazer em si algo de vivo do espírito, o que até agora estava excluído. —

Antes de entrarmos em pormenores, quero esclarecer o que é espírito, como sendo o único realmente vivo dentro do ser humano. Espírito não é esperteza nem intelecto! Tampouco é sabedoria aprendida. Por isso chama-se erroneamente de “espirituosa” a uma pessoa, que estudou muito, leu, observou e sabe conversar bem a esse respeito. Ou quando brilha pelas boas ideias e por perspicácia do intelecto.

O espírito é algo muito diferente. Trata-se de uma constituição autónoma, oriunda do mundo de sua espécie igual, que é diferente da parte a que pertence a Terra e, com isso, o corpo. O mundo espiritual encontra-se mais alto, constitui a parte superior e mais leve da Criação. Essa parte espiritual no ser humano, devido à sua constituição, traz em si a incumbência de voltar ao puro espiritual, tão logo se tenham desligado dela todos os envoltórios materiais. O impulso para isso surge em um bem determinado grau de amadurecimento, e o conduz então para cima, para sua igual espécie, por cuja força de atracção é elevado. *(Dissertação Nº 63: Eu sou a ressurreição e a vida, etc.!)

O espírito nada tem a ver com o intelecto terreno, e sim apenas com a propriedade que denominamos como “coração”. Espirituoso tem, pois, a mesma significação que “dotado de coração”, e não que dotado de intelecto.

A fim de mais facilmente descobrir tal diferença, o ser humano sirva-se então da frase: “Era uma vez!” Muitos dos que procuram já encontrarão uma explicação através dela. Caso observarem atentamente a si mesmos, poderão reconhecer tudo o que foi útil à sua alma na vida terrena de até agora, ou o que serviu apenas para lhes facilitar a passagem e o seu trabalho no âmbito terreno. Portanto, o que não só possui valores terrenos, mas também do Além, e o que serve unicamente para finalidades terrenas, permanecendo, porém, sem valor para o Além. O primeiro, ele pode levar consigo para o Além, o outro, porém, deixa para trás, no desenlace, como algo válido somente aqui, já que mais adiante de nada lhe pode servir. O que deixa para trás, vem a ser apenas o instrumento para os acontecimentos terrenos, meio auxiliar para a época terrena, nada mais.

Se um instrumento não é utilizado somente como tal, e sim ajustado muito acima de sua capacidade, lógico é que não é adequado para essa altitude, encontra-se em lugar errado, acarretando com isso também falhas de várias espécies que, com o decorrer do tempo, trarão consequências desastrosas.

A esses instrumentos pertence, como o mais elevado, o intelecto terreno que, como produto do cérebro humano, tem de trazer a restrição em si, à qual tudo quanto é de matéria grosseira corporal fica sempre sujeito, por sua própria constituição. E o produto também não pode ser diferente da origem. Esse permanece sempre ligado à espécie da origem. Do mesmo modo, as obras que surgem através do produto.

Disso resulta para o intelecto, naturalmente, a mais restrita capacidade de compreensão, somente terrena, estreitamente ligada a espaço e tempo. Como ele descende da matéria grosseira, por si morta, a qual não traz em si vida própria, ele também não possui força viva. Essa circunstância manifesta-se, logicamente, em todos os actos do intelecto, o qual, por isso, permanece impossibilitado de inserir algo vivo em suas obras.

Nesse acontecimento natural imutável encontra-se a chave para as ocorrências sombrias durante a existência do ser humano sobre esta pequena Terra.

Temos de aprender finalmente a distinguir entre o espírito e o intelecto, entre o núcleo vivo do ser humano e o seu instrumento! Se esse instrumento for colocado acima do núcleo vivo, como aconteceu até agora, resulta algo insano que há de trazer em si já na origem o gérmen da morte, e assim, aquilo que é vivo, o mais sublime, o mais precioso, será sufocado, atado e separado de sua indispensável actividade, até que, inacabado, erga-se livremente dos destroços no inevitável desmoronamento da construção morta.

Imaginemos agora em vez de “Era uma vez” a pergunta: “Como era antigamente?” Quão diverso é o efeito. Logo se nota a grande diferença. A primeira frase fala para a intuição, que está em ligação com o espírito. Já a segunda se dirige ao intelecto. Imagens muito diferentes surgem com isso. São de antemão limitadas, frias, sem calor de vida, porque o intelecto não tem outra coisa para dar.

A maior culpa da humanidade, porém, desde o início, foi ter colocado esse intelecto, que somente pode formar coisas incompletas e sem vida, sobre um alto pedestal, adorando-o literalmente e dançando ao seu redor. Foi-lhe dado um lugar que devia ser reservado para o espírito.

Tal empreendimento encontra-se, em tudo, em oposição às determinações do Criador e, portanto, contra a natureza, já que estas jazem ancoradas na actividade da natureza. Por conseguinte, também nada pode conduzir a um verdadeiro alvo, ao contrário, tudo tem de ruir no ponto em que a colheita deve começar. Não é possível de outro modo, mas sim um acontecimento natural, previsível.

Somente é diferente na mera técnica, em cada indústria. Esta atingiu um alto nível através do intelecto e progredirá ainda muito mais no futuro! O facto, no entanto, serve como prova da veracidade de minhas declarações. A técnica é e sempre permanecerá, em todas as coisas, puramente terrena, morta. Como o intelecto, pois, também pertence a tudo o que é terrenal, consegue, no que diz respeito à técnica, desenvolver-se admiravelmente, realizar coisas realmente grandes. Ele se encontra aí no lugar certo, em sua verdadeira incumbência! Contudo, lá onde for necessário entrar em consideração também o que é “vivo”, isto é, essencialmente humano, o intelecto não basta em sua espécie e por isso tem de falhar, tão logo não for guiado aí pelo espírito! Pois só o espírito é vida. Êxito em uma bem determinada espécie pode trazer sempre apenas a actuação da igual espécie. Por esta razão, o intelecto terreno jamais poderá actuar no espírito! Por esse motivo constituiu uma grave falta dessa humanidade, o facto de ter colocado o intelecto acima da vida.

Com isso, o ser humano alterou a sua tarefa, colocou-a, a bem dizer, de cabeça para baixo, contra a determinação criadora, isto é, totalmente natural, ao conferir ao intelecto, que vem em segunda posição, somente terrenal, o lugar mais alto, que pertence ao espírito vivo. Com isso, por sua vez, torna-se bem natural que agora seja obrigado a procurar penosamente de baixo para cima, no que o intelecto, colocado acima, com sua restrita faculdade de compreensão, impede qualquer visão mais ampla, em vez de poder ver, através do espírito, de cima para baixo.

Se quiser despertar, então o ser humano é obrigado, antes disso, a “inverter as luzes”. Colocar o que agora está em cima, o intelecto, no lugar que lhe foi destinado por natureza, e levar o espírito outra vez ao lugar mais elevado. Essa inversão necessária não é mais tão fácil para o ser humano de hoje. —

O acto inversor de outrora dos seres humanos, que se colocou tão incisivamente contra a vontade do Criador, por conseguinte, contra as leis da natureza, foi o “pecado original” propriamente dito, cujas consequências nefastas nada deixam a desejar; pois este então se transformou no “pecado hereditário”, porque a elevação do intelecto a dominador único acarretou, por sua vez, também a natural consequência de que o cuidado e a actuação tão unilateral fortalecesse com o tempo também o cérebro unilateralmente, de modo que cresceu somente a parte que tem de executar o trabalho do intelecto, e a outra teve de definhar. Por isso, essa parte atrofiada por negligência só consegue hoje em dia agir ainda como um cérebro de sonhos pouco confiável, que ainda por cima está sob a poderosa influência do assim chamado cérebro diurno, que acciona o intelecto.

A parte do cérebro, que deve constituir a ponte para o espírito, ou melhor, a ponte do espírito para tudo o que é terreno, foi, portanto, paralisada com isso, uma ligação rompida, ou pelo menos bastante afrouxada, com o que o ser humano impediu para si toda a acção do espírito e com isso também a possibilidade de tornar seu intelecto “animado”, espiritualizado e vivificado. Ambas as partes do cérebro deveriam ter sido desenvolvidas bem uniformemente, para uma actividade comum e harmónica, como tudo no corpo. O espírito guiando e o intelecto executando aqui na Terra. Torna-se assim evidente que devido a isso toda a actividade do corpo, e até mesmo este, nunca pode ser assim como ele deve ser. Esse acontecimento manifesta-se naturalmente através de tudo! Porque com isso falta o essencial para todas as coisas terrenas!

É um facto fácil de compreender que com o impedimento estavam ligados simultaneamente também o afastamento e o alheamento do divino. Pois não havia mais caminho para lá.

Isso teve, por fim, novamente a desvantagem que já desde milénios todo corpo de criança, que nasce, traz para a Terra o cérebro anterior do intelecto tão grande, por causa da hereditariedade de alcance cada vez maior, que de antemão toda a criança, devido a essa circunstância, será outra vez facilmente subjugada pelo intelecto, tão logo esse cérebro entre em plena actividade. O abismo entre as duas partes do cérebro tornou-se agora tão grande, a relação das possibilidades de trabalho tão desiguais que, sem uma catástrofe, na maior parte dos seres humanos não se consegue mais uma melhora.

O actual ser humano de intelecto não é mais uma criatura humana normal, mas falta-lhe todo o desenvolvimento da parte principal do seu cérebro, pertencente ao ser humano completo, devido à atrofia processada desde milénios. Todo o ser humano de intelecto, sem excepção, tem somente um cérebro normal aleijado! Por conseguinte, dominam a Terra, há milénios, aleijados de cérebro, consideram os seres humanos normais como inimigos e procuram subjugá-los. No atrofiamento consideram-se capazes de realizar muito e não sabem que a criatura humana normal tem condições de realizar dez vezes mais e produzir obras que possuem duração e que são mais perfeitas do que os empreendimentos actuais! O caminho para obter tal capacitação está aberto a cada pesquisador verdadeiramente sincero!

Todavia, um ser humano de intelecto não poderá mais estar tão facilmente em condições de compreender algo que faz parte da actividade dessa parte atrofiada de seu cérebro! Ele simplesmente não é capaz de compreender, mesmo se quisesse, e somente devido à sua estreiteza voluntária é que zomba de tudo o que não está ao seu alcance e que nunca mais poderá ser compreendido por ele, em consequência de seu cérebro em verdade retrógrado, anómalo. Nisso repousa exactamente a parte mais terrível da maldição dessa aberração antinatural. A cooperação harmoniosa entre as duas partes do cérebro humano, que é absolutamente necessária para uma criatura humana normal, é coisa definitivamente impossível para os actuais seres humanos de intelecto, que denominamos materialistas. —

Ser materialista não é acaso um elogio, mas sim a legitimação de um cérebro atrofiado.

Domina, por conseguinte, até agora nesta Terra o cérebro antinatural, cuja actuação, por fim, evidentemente, tem que trazer a ruína inevitável de tudo, pois tudo aquilo, quanto ele também queira trazer, já contém em si desde o início, naturalmente, desarmonia e doença, devido ao atrofiamento.

Nisto agora nada mais há para modificar, mas deve-se aguardar tranquilamente o desmoronamento que se processa de forma natural. Então, porém, é chegado o dia da ressurreição para o espírito, e também uma nova vida! Com isso estará aniquilado para sempre o escravo do intelecto que, desde milénios, tem a palavra! Nunca mais ele poderá erguer-se, porque a prova e a vivência própria finalmente o forçarão a submeter-se voluntariamente, como doente e pobre de espírito, àquilo que era incapaz de compreender. Nunca mais lhe será dado a oportunidade de levantar-se contra o espírito, quer com escárnio, quer com aparente direito, usando violência, como também foi praticado contra o Filho de Deus, que teve de lutar contra isso. Outrora, ainda teria sido possível evitar muitas desgraças. Mas agora não mais; pois nesse intervalo tornou-se impossível reatar a debilitada ligação entre as duas partes do cérebro.

Haverá muitos seres humanos de intelecto, que mais uma vez quererão zombar das explicações nesta dissertação, contudo, sem aí, como sempre, além de palavras de propaganda vazias, poderem apresentar sequer uma contraprova realmente objectiva. Entretanto, todo aquele que procura sinceramente e que raciocina tem de tomar esse alvoroço cego apenas como nova prova daquilo que aqui esclareci. Tais pessoas simplesmente não podem, mesmo que se esforcem para tanto. Consideremo-las, por isso, de hoje em diante, como doentes que em breve necessitarão de auxílio e... aguardemos calmamente. Não há necessidade de luta nem de nenhum acto de violência para forçar o progresso necessário; pois o fim virá por si mesmo. Também nisto se efectiva o acontecimento natural de forma totalmente inexorável e também pontual nas leis inamovíveis de todas as reciprocidades. — —

Uma “nova geração” deve surgir então, de acordo com tantas profecias. Essa não será constituída, porém, somente de novos nascimentos, tidos como dotados de um “novo sentido”, conforme já foi observado agora na Califórnia e também na Austrália, mas sim principalmente de pessoas que já vivem na Terra, que em tempo próximo tornar-se-ão “videntes” devido a muitos acontecimentos que estão por vir. Terão, então, o mesmo “sentido” que os actuais recém-nascidos; pois esse sentido nada mais é do que a capacidade de estar no mundo com o espírito aberto e livre, o qual não se deixa mais subjugar pelas restrições do intelecto. Com isso, o pecado hereditário será finalmente extinguido!

Tudo isso, porém, nada tem a ver com as propriedades denominadas até agora de “faculdades ocultas”. Trata-se apenas da criatura humana normal, como deve ser! O “tornar-se vidente” não tem relação alguma com a “clarividência”, mas sim, significa o “entender”, o reconhecer.

Os seres humanos estarão então em condições de distinguir tudo sem serem influenciados, o que nada mais significa do que formar um juízo próprio. Eles vêem o ser humano de intelecto tal qual é realmente, em sua tão perigosa restrição, tanto para ele como para seu ambiente, da qual simultaneamente se originam a arrogância de dominar e a mania de querer ter sempre razão, que, na verdade, faz parte disso.

E eles vão compreender, como desde milénios, em severa consequência, a humanidade inteira sofreu sob esse jugo, uma vez dessa, outra vez de outra forma, e como essa afecção cancerosa, qual inimigo hereditário, sempre se dirigiu contra o desenvolvimento do espírito humano livre, a principal finalidade na existência da criatura humana! Nada lhes escapará, nem mesmo a amarga certeza de que a aflição, todos os sofrimentos, cada uma das quedas, tinham de se originar desse mal, e que a melhora nunca pôde ocorrer, porque cada reconhecimento mais amplo estava excluído de antemão devido à restrição da faculdade de compreensão.

Com o despertar, porém, também terá cessado toda influência, todo poder desses seres humanos de intelecto. Para todos os tempos; pois se inicia então uma nova e melhor época para a humanidade, onde o antigo não pode mais se manter.

Com isso, virá a necessária, já hoje desejada por centenas de milhares, vitória do espírito sobre o intelecto que falha. Muitas das massas, até agora induzidas a erro, ainda reconhecerão com isso que até então tinham interpretado de modo inteiramente errado a expressão “intelecto”. A maioria, sem examinar, aceitou-o simplesmente como um ídolo, só porque também os demais o apresentavam assim, e porque todos os seus adeptos sempre sabiam apresentar-se, pela violência e pelas leis, como dominadores absolutos e infalíveis. Muitos, devido a isso, nem se dão ao trabalho de descobrir a verdadeira vacuidade e as falhas que se ocultavam atrás disso.

Contudo, existem com certeza também outros que, desde decénios, vêm lutando contra esse inimigo com tenaz energia e convicção, escondida e, em parte, também abertamente, expostos às vezes também aos mais pesados sofrimentos. Porém, lutaram, sem conhecer o próprio inimigo! E isso dificultava, logicamente, o sucesso. Tornou-o de antemão impossível. A espada dos lutadores não era bem afiada, porque iam gastando-a constantemente ao bater em factos secundários. Com esses factos secundários, porém, davam também sempre golpes ao acaso, desperdiçando as próprias forças, e ocasionaram apenas desunião entre si, que hoje aumenta cada vez mais.

Há na realidade apenas um inimigo da humanidade ao longo de toda a linha: o domínio, até agora irrestrito, do intelecto! Isso foi o grande pecado original, a mais grave culpa do ser humano, que acarretou todos os males. Isso se tornou o pecado hereditário, e isso também é o anticristo, sobre o qual foi anunciado, que levantará sua cabeça. Em termos mais claros, o domínio do intelecto é seu instrumento, pelo qual os seres humanos lhe estão submissos. A ele, ao inimigo de Deus, ao próprio anticristo... Lúcifer! *(Dissertação Nº 89: O anticristo)

Encontramo-nos no meio dessa época! Ele habita hoje em cada ser humano, pronto a destruí-lo, pois sua actividade causa o imediato afastamento de Deus, como consequência totalmente natural. Ele intercepta o espírito, tão logo possa reinar.

Eis por que deve o ser humano manter-se em constante vigilância. —

Não deve, por isso, acaso diminuir seu intelecto, mas sim transformá-lo em instrumento, que ele é, e não torná-lo uma vontade determinante. Não torná-lo senhor!

A criatura humana da geração vindoura poderá contemplar os tempos de até agora apenas ainda com asco, horror e com vergonha. Semelhante ao que se dá connosco, quando entramos em uma antiga câmara de tortura. Também aí vemos os maus frutos do frio domínio do intelecto. Pois é incontestável que uma pessoa com um pouquinho só de coração e consequente actividade espiritual jamais teria inventado um tal horror! No geral, porém, hoje isto não é diferente, apenas algo disfarçado, e as misérias das massas são idênticos frutos podres, como a antiga tortura individual.

Quando o ser humano vier a lançar um olhar retrospectivo, então não cessará mais de mover de um lado para o outro a cabeça. Ele perguntará a si mesmo como foi possível suportar tais erros em silêncio durante milénios. A resposta é, evidentemente, muito simples: pela violência. Para onde quer que se olhe, pode-se reconhecer isso bem nitidamente. Excluindo os tempos da remota antiguidade, basta que entremos nas já citadas câmaras de tortura, que ainda hoje podem ser vistas por toda parte, e cuja utilização não dista tanto assim da época presente.

Sentimos arrepios, quando contemplamos esses antigos instrumentos. Quanta brutalidade fria há nisso, quanta bestialidade! Decerto, nenhuma pessoa do tempo actual terá dúvidas de que tais práticas constituíram pesados crimes. Cometeu-se com isso, nos criminosos, um crime ainda maior. Mas também muitos inocentes foram arrancados da família e da liberdade, e atirados brutalmente naquelas masmorras. Quantas lamentações, quantos gritos de dor faziam-se ouvir dos que ficavam ali inteiramente à mercê de seus carrascos. Seres humanos tiveram de sofrer coisas, diante das quais, em pensamento, só se pode sentir aversão e pavor. Cada um pergunta a si próprio, involuntariamente, se de facto foi humanamente possível ter acontecido tudo isso com esses indefesos, e ainda por cima sob a aparência de todo o direito. Um direito que outrora só se arrogou pela violência. E agora novamente, através de dores físicas, forçou-se confissões de culpa das pessoas suspeitas para que, dessa forma, sem percalços, pudessem ser assassinadas. Mesmo que tais confissões de culpa só fossem obtidas à força e prestadas apenas para fugir a esses impiedosos maus-tratos corporais, elas eram suficientes aos juízes, que precisavam de tais confissões para cumprir a “palavra” da lei. Presumiriam esses indivíduos medíocres realmente que com isso podiam lavar-se também perante a vontade divina? De livrar-se da acção inexorável da lei fundamental de uma reciprocidade?

Ou todas essas criaturas humanas eram escória dos mais endurecidos criminosos, que se arrogaram o direito de submeter outros a julgamento, ou fica demonstrado através disso, tão nitidamente, a estreiteza doentia do intelecto terreno. Não pode haver um meio-termo.

Segundo as leis divinas da Criação, todo dignitário, todo juiz, indiferente de qual cargo ele exerce aqui na Terra, não deveria nunca ficar, em sua actuação, sob o abrigo do cargo que exerce, mas sim, sozinho e de forma puramente pessoal, sem protecção como qualquer outra pessoa, teria de arcar ele mesmo com a plena responsabilidade, por tudo quanto fizer em seu cargo. E não só espiritualmente, como também terrenamente. Assim cada qual tomaria as coisas muito mais a sério e com mais cuidado. E os assim chamados “erros” com toda a certeza não mais se repetirão tão facilmente, cujas consequências jamais podem ser reparadas. Sem falar dos sofrimentos físicos e anímicos das pessoas atingidas e de seus familiares.

Examinemos uma vez ainda o capítulo também pertencente a este assunto dos processos das assim chamadas “bruxas”!

Quem teve alguma vez acesso aos autos de tais processos gostaria de, corado de vergonha, desejar para si, nunca ter feito parte desta humanidade. Bastava, outrora, um ser humano possuir conhecimentos sobre plantas terapêuticas, seja mediante experiência prática ou adquirida por tradição, e com isso prestar ajuda a pessoas doentes que a solicitassem dele, então era arrastado impiedosamente a essa tortura, de que por fim só o livrava a morte na fogueira, se seu corpo não sucumbisse antes a essas crueldades.

Até mesmo a beleza corporal podia servir outrora de motivo para isso, principalmente a castidade que não se subjugava.

E então ainda as atrocidades medonhas da Inquisição! (*Tribunal do Santo Ofício) Relativamente poucos são os anos que nos separam desse “outrora”!

Da mesma forma que hoje reconhecemos essa injustiça, também as reconhecia outrora o povo. Pois este não estava ainda tão restringido pelo “intelecto”, nele ainda repontava aqui e acolá o sentimento, o espírito.

Não se reconhece hoje uma total estreiteza nisso tudo? Uma estupidez irresponsável?

Fala-se sobre isso com superioridade e encolher de ombros, todavia, no fundo nada se alterou aí. Ainda se conserva intacta a presunção estreita diante de tudo o que não foi compreendido! Só que em lugar dessas torturas se recorre actualmente ao sarcasmo público em tudo o que, devido à própria estreiteza, não se compreende. Que cada qual bata no peito e pense primeiro sobre isso, sem nisso se poupar. Toda a pessoa, que possui a capacidade de saber o que para os demais fica inacessível, que talvez possa ver, com os olhos de matéria fina, também o mundo de matéria fina como um fenómeno natural, o que dentro em pouco não provocará mais dúvidas, muito menos ataques brutais, será de antemão considerada como impostora pelos heróis do intelecto, isto é, por criaturas humanas não completamente normais, e talvez também perante a justiça.

E ai daquele, que não sabe o que fazer com isso e que com a maior inocência fala dessas coisas que viu e que ouviu. Terá de sentir medo disso, como os primeiros cristãos sob o domínio de Nero com seus auxiliares sempre prontos para cometer assassínios.

Caso essa pessoa ainda possua outras faculdades, que nunca poderão ser compreendidas pelos pronunciados seres humanos de intelecto, então ela será implacavelmente e sem piedade perseguida, caluniada e posta à margem, se não se submeter à vontade de todos; se for possível, será tornada “inócua”, conforme se costuma expressar tão habilmente. Ninguém sente remorsos por causa disso. Um tal ser humano vale ainda hoje como caça livre de qualquer indivíduo às vezes interiormente muito pouco limpo. Quanto mais restrito um ser humano, maior também a ilusão de perspicácia e o pendor para a arrogância.

Não se aprendeu nada com esses acontecimentos dos velhos tempos, com as suas torturas e fogueiras, e ridículos autos dos processos! Pois ainda hoje qualquer pessoa pode impunemente macular e ofender o que é fora do comum e não-compreendido. Nisso não é diferente do que foi outrora.

Pior ainda do que com a justiça, foi nas inquisições criadas pela Igreja. Aqui, os gritos dos martirizados eram abafados por orações beatas. Era um escárnio em relação à vontade divina na Criação! Os representantes eclesiásticos daqueles tempos demonstravam com isso que não tinham a mínima noção do verdadeiro ensinamento de Cristo, nem da divindade e de sua vontade criadora, cujas leis repousam de modo inabalável na Criação e aí actuam, homogeneamente desde o começo até o fim dos tempos.

Deus deu ao espírito humano, em sua constituição, o livre-arbítrio da decisão. Somente nele é que ele pode amadurecer assim como deve, lapidar-se e desenvolver-se plenamente. Só aí encontra a possibilidade para tanto. Se, porém, essa vontade livre for reprimida, torna-se um obstáculo, quando não um retrocesso violento. Contudo, as igrejas cristãs, bem como muitas religiões, combatiam outrora essa determinação divina, opondo-se a ela com a maior crueldade. Queriam, por meio de torturas, e por fim pela morte, obrigar as pessoas a enveredar e seguir por caminhos, fazer confissões que eram contra suas convicções, isto é, contra sua vontade. Com isso, pecavam contra o mandamento divino. No entanto, não somente isso, mas impediam também as pessoas na evolução de seu espírito, e arremessaram-nas centenas de anos para trás.

Se apenas uma centelha de verdadeiro sentimento, portanto, do espírito, houvesse se manifestado nisso, então tal coisa jamais deveria e poderia ter acontecido! Somente a frieza do intelecto ocasionou assim esse procedimento desumano.

É comprovado pela história que até mesmo muitos papas mandaram trabalhar com punhal e com veneno para realizar seus desejos puramente terrenos, seus objectivos. Isso só se podia dar sob o domínio do intelecto, que em sua marcha triunfal tudo subjugava, sem se deter diante de coisa alguma. —

E acima de tudo isso pairava e paira, como facto inamovível, a vontade férrea de nosso Criador. Ao passar para o Além, cada pessoa fica despida do poder terreno e de sua protecção. Seu nome, sua posição, tudo ficou para trás. Apenas uma pobre alma humana trespassa para o Além, para aí receber, usufruir o que semeou. Não é possível sequer uma excepção! Seu caminho a conduz através de toda a engrenagem da incondicional reciprocidade da justiça divina. Lá não existe nenhuma Igreja, nenhum Estado, e sim apenas almas humanas individuais, que têm de prestar contas, pessoalmente, de cada um dos erros que cometeram!

Quem age contra a vontade de Deus, isto é, quem peca na Criação, fica submetido às consequências de tal transgressão. Não importa quem seja e sob que pretexto tenha sido cometido. Quer seja um ser humano individual, sob a cobertura da Igreja, da justiça... um crime contra o corpo ou contra a alma é e continua sendo crime! Isso não pode ser alterado de forma alguma, nem mesmo através de uma aparência de direito, que absolutamente nem sempre é o direito; pois evidentemente as leis também foram estabelecidas apenas pelos seres humanos de intelecto e, por conseguinte, têm de conter restrição terrena.

Veja-se, por exemplo, a legislação de muitos países, principalmente da América Central e do Sul. A pessoa que hoje governa e que por isso recebe todas as honrarias pode, já amanhã, ir parar em um cárcere como criminosa ou ser executada, caso seu adversário consiga apoderar-se desse governo por um golpe de força. Caso malogre, em lugar de ser ele proclamado regente, passará a ser considerado como criminoso e perseguido. E todas as autoridades constituídas servem de bom grado, tanto a um como a outro. Até mesmo um viajante, dando voltas ao mundo, tem muitas vezes de mudar de consciência como quem muda de roupa, quando passa de um país para outro, para poder ser considerado bom em todas as partes. O que em um país é tido como crime, no outro muitas vezes é permitido e, ainda mais, talvez até mesmo bem-visto.

Isso naturalmente só é possível nas conquistas do intelecto terreno, mas nunca onde o intelecto deve assumir seu degrau natural como instrumento do espírito vivo; pois quem escutar o espírito jamais ignorará as leis de Deus. E onde estas forem tomadas como fundamento, lá não pode haver defeitos nem lacunas, e sim tão-só unidade, que traz consigo felicidade e paz. As manifestações do espírito em todas as partes, em suas linhas gerais, somente podem ser sempre as mesmas. Jamais se oporão umas às outras.

Também a ciência do direito, a medicina, a política, tem de permanecer ofício imperfeito lá, onde somente o intelecto pode constituir a base e onde falta o espiritual. Simplesmente não é possível de outro modo. Partindo-se nesse caso, evidentemente, sempre do verdadeiro conceito de “espírito”. —

O saber é um produto, o espírito, porém, vida, cujo valor e cuja força só podem ser medidos segundo suas ligações com a origem do espiritual. Quanto mais íntima for essa ligação, tanto mais valiosa e poderosa há de ser a parte que se desprendeu da origem. Quanto mais enfraquecida, porém, tornar-se essa ligação, tanto mais distante, estranha, isolada e fraca tem de ser também a parte saída da origem, isto é, o respectivo ser humano.

Todas essas são evidências tão simples, que não se pode compreender como os seres humanos de intelecto, que erraram o caminho, possam passar sempre e sempre de novo como cegos por isso. Pois o que a raiz traz, recebem o tronco, a flor e o fruto! Mas também nisso se mostra essa desesperançada auto-restrição na compreensão. Penosamente construíram um muro à sua frente e agora não podem mais olhar por cima e muito menos através dele.

No entanto, a todos os espiritualmente vivos eles têm, com seu sorriso trocista e presunçoso, com seus ares de superioridade e olhar de desprezo para outros ainda não tão escravizados, de assemelhar-se às vezes a pobres tolos doentes, os quais, apesar de toda a compaixão, deve-se deixar em sua ilusão, porque o seu limite de compreensão deixa passar sem impressões mesmo os factos reais de comprovações contrárias. Todo e qualquer esforço para melhorar alguma coisa nisso deve assemelhar-se tão-só às tentativas vãs de envolver um corpo doente com um manto novo e bem vistoso, a fim de restabelecer também simultaneamente a saúde.

Já agora o materialismo está além do seu ponto culminante, e breve, falhando por toda parte, terá de desmoronar em si. Não sem nisso arrastar consigo muita coisa boa. Seus adeptos já chegaram ao fim de suas possibilidades, dentro em breve ficarão confusos em relação à sua própria obra e depois a si próprios, sem perceber o abismo que se abriu diante deles. Em pouco tempo serão qual um rebanho sem pastor, não confiando uns nos outros, cada qual seguindo seu próprio caminho e, não obstante isso, elevando-se ainda orgulhosamente por cima dos outros. Irreflectidamente, seguindo apenas o hábito anterior.

Com todos os sinais da aparência exterior de sua vacuidade eles, por fim, também tombarão às cegas no abismo. Consideram ainda como espírito, aquilo que apenas é produto de seus próprios cérebros. Como, porém, pode a matéria morta gerar espírito vivo? Em muitas coisas mostram-se orgulhosos por seu pensar exacto e, nos assuntos essenciais, sem o mínimo escrúpulo, deixam lacunas da maior irresponsabilidade.

Cada novo passo, cada tentativa de melhora, terá que trazer sempre novamente em si toda a aridez da obra do intelecto, e assim o gérmen da decadência inevitável.

Tudo quanto digo de tal natureza não é nenhuma profecia, nenhum predizer sem base, e sim a consequência inalterável da vontade criadora, que tudo vivifica, cujas leis já esclareci em minhas numerosas dissertações precedentes. Quem segue comigo em espírito os caminhos nitidamente indicados nas mesmas também tem de abranger com a vista o fim inevitável e reconhecê-lo. E todos os indícios para isso já estão aí.

Lastima-se e grita-se, vê-se com asco de que maneira as excrescências do materialismo exibem-se hoje em formas quase inacreditáveis. Implora-se e roga-se pela libertação do sofrimento, pela melhora, pela cura desse declínio ilimitado. Os poucos, que ainda puderam salvar qualquer emoção de sua vida anímica dessa tempestade de acontecimentos incríveis, que não se sufocaram espiritualmente na decadência geral que ilusoriamente traz com orgulho na testa o nome “progresso”, sentem-se como expulsos, retardatários, e também como tais são considerados e ridicularizados pelos seguidores sem alma da época moderna.

Uma coroa de louros a todos quantos tiveram a coragem de não se juntar às massas! Que altivamente se abstiveram da rampa íngreme que leva para baixo!

É um sonâmbulo aquele que por isso ainda se considera hoje um infeliz! Abri os olhos! Não vedes, pois, que tudo o que vos oprime já é o começo do repentino fim do materialismo, que actualmente só domina de maneira aparente? A construção inteira já está para ruir, sem a participação dos que sob ele sofreram e ainda terão de sofrer. A humanidade de intelecto tem agora de colher aquilo que durante milénios gerou, alimentou, criou e idolatrou.

Para o cálculo humano, um longo período, para as mós automáticas de Deus na Criação, um breve lapso de tempo. Para onde vós olhardes, em toda parte surge o falhar. Ele flutua recuando e represa-se ameaçadoramente, elevando-se como um pesado dique para, em breve, precipitando-se e desmoronando, soterrar fundo os seus adoradores em baixo de si. Trata-se da lei inexorável da reciprocidade, que tem de mostrar-se de modo terrível nesse desencadeamento, porque durante milénios, apesar de múltiplas experiências, nunca houve uma alteração para algo mais elevado, e sim, pelo contrário, foi alargado ainda mais o mesmo caminho errado.

Desalentados, o tempo é chegado! Levantai a fronte, que tantas vezes tivestes de baixar cheios de vergonha, quando a injustiça e a estupidez puderam vos infligir sofrimento tão profundo. Encarai hoje calmamente o adversário, que dessa maneira quis subjugar-vos!

A veste pomposa de até agora já está bem estraçalhada. Através de todos os seus buracos já se vê finalmente a figura em sua forma verdadeira. Inseguro, mas nem por isso menos arrogante, o fatigado produto do cérebro humano, o intelecto, que se deixou elevar a espírito, olha dela para fora... sem compreender!

Tirai sossegadamente a venda e olhai mais nitidamente ao redor de vós. Já um relance em alguns bons jornais transmite a um olhar claro toda uma série de coisas. Vê-se um esforço obstinado para se agarrar ainda a toda a velha aparência. Procura-se, com arrogância e não raro com sarcasmos grosseiros, encobrir toda essa incompreensão que cada vez se mostra mais nitidamente. Muitas vezes uma pessoa quer, empregando expressões insípidas, julgar algo do que, na realidade, não possui evidentemente sequer um vislumbre de compreensão. Até mesmo pessoas com qualidades muito boas debandam hoje desamparadas para caminhos pouco limpos, somente para não terem de confessar que muitas coisas ultrapassam a capacidade de compreensão de seu próprio intelecto, sobre o qual unicamente queriam apoiar-se até agora. Não percebem o ridículo do procedimento, não vêem os pontos fracos que dessa maneira só ajudam a aumentar. Confusos, ofuscados, encontrar-se-ão em breve diante da Verdade e, entristecidos, lançarão um olhar sobre sua vida fracassada, nisso reconhecendo finalmente, envergonhados, que havia estupidez exactamente lá, onde se tinham como sábios.

Até que ponto já se chegou hoje? O ser humano musculoso é trunfo! Acaso um pesquisador sério, que em luta durante decénios descobriu um soro que anualmente presenteou centenas de milhares de pessoas, adultos e menores, com protecção e também ajuda contra os perigos de doenças fatais, pôde festejar tamanhos triunfos como um boxeador, que vence seu adversário com rude brutalidade puramente terrena? Ou como um aviador que, com um pouco de coragem, não mais do que cada combatente tinha que ter no campo de batalha, executa um importante voo, graças à sua excelente máquina? É considerado quase um acontecimento político. Acaso uma única alma humana tem algum proveito com isso? Só terrenal, completamente terrenal, isto é, inferior em toda a obra da Criação! Correspondendo inteiramente ao bezerro de ouro da actividade do intelecto. Como triunfo desse príncipe fictício de barro, tão preso à Terra, sobre a restrita humanidade! — —

E ninguém vê esse deslizar vertiginoso rumo ao abismo horrendo!

Quem intui isso mantém-se por enquanto ainda em silêncio, com a consciência vergonhosa, de que seria ridicularizado se falasse. Trata-se já de uma confusão absurda, onde, no entanto, desponta o reconhecimento da incapacidade. E com o pressentir do reconhecimento, tudo se revolta mais ainda, já por teimosia, por vaidade, e não por último pelo temor e pelo pavor do que há de sobrevir. Não se quer por nenhum preço já pensar no fim desse grande erro! Torna-se um agarrar obstinado à orgulhosa construção dos milénios passados, que se assemelha em tudo à construção da torre de Babel e que também acabará identicamente!

O materialismo, até agora não perturbado, traz em si o pressentimento da morte que, a cada mês, torna-se mais evidente. —

Nas inúmeras almas, porém, isso se faz sentir, por toda parte, na Terra inteira! Sobre o brilho da Verdade só resta ainda uma ténue camada das concepções velhas e falsas que o primeiro golpe de vento purificador sopra para longe, de modo a assim libertar o núcleo, cujo luzir se ligará a tantos outros, para ostentar sua auréola radiante que se eleva como uma chama de agradecimento em direcção ao reino da luminosa alegria, aos pés do Criador.

Esta será a época do tão almejado Reino do Milénio, que está diante de nós como grande estrela da esperança em radiante promessa!

Com isso, estará remido finalmente o grande pecado da humanidade inteira contra o espírito, que o deixou preso à Terra por meio do intelecto! Somente esse é então o caminho certo para a volta ao natural, o caminho da vontade do Criador, que quer que as obras dos seres humanos sejam grandes e perfluídas por intuições vivas! A vitória do espírito será simultaneamente também a vitória do mais puro amor!

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Actualização mais recente desta página: 4 de Março de 2020